A cidade do Rio inicia nesta sexta-feira, 16 de fevereiro, o estudo com a vacina contra a dengue na região de Guaratiba, na Zona Oeste da cidade. Realizada em parceria com o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) prevê a imunização de 20 mil moradores da localidade na faixa etária de 18 a 40 anos e com cadastro ativo em uma das 10 unidades de Atenção Primária da região, que foi escolhida para o estudo pelo histórico de registrar muitos casos da doença. A aplicação da vacina será feita de forma escalonada e os primeiros a serem atendidos serão os usuários elegíveis cadastrados no CMS Mourão Filho, no bairro de Barra de Guaratiba.
A região de Guaratiba tem cerca de 67 mil moradores na faixa etária cadastrados na Atenção Primária. Como a pesquisa trabalhará com 20 mil pessoas, foi adotado como critério de definição dos participantes o mês de nascimento. Foi realizado um sorteio e selecionados os meses de maio, agosto, outubro e novembro. Assim, os moradores da região de Guaratiba (bairros de Guaratiba, Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba e Ilha de Guaratiba) com idades entre 18 e 40 anos nascidos nos quatro meses sorteados estão aptos a participar da pesquisa, exceto se estiverem gestantes ou amamentando, se tiverem contraído dengue nos últimos seis meses, se tiverem problemas de imunodepressão ou se receberam hemoderivados nos últimos três meses. A relação das pessoas elegíveis a participar da pesquisa (data de nascimento, iniciais dos nomes e cinco primeiros números do CPF) está publicada em https://riosemdengue.prefeitura.rio/guaratiba/. A participação é voluntária.
“Essa já é uma vacina reconhecida pela Anvisa, já foi testada e teve sua eficácia comprovada. Aqui, queremos quantificar essa eficácia e observar como essa vacina vai se comportar nas características da população brasileira. Esses estudos são importantes sempre que uma vacina nova é introduzida. Em 2021, por exemplo, fizemos pesquisas semelhantes na Ilha de Paquetá e na Maré com a vacina contra a covid-19 e, graças às evidências que levantamos, pudemos colaborar com a tomada de importantes decisões sobre a introdução de doses de reforço”, disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
A secretária nacional de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente, Ethel Maciel, ressaltou que o estudo de Guaratiba, com a faixa etária de 18 a 40 anos, vai auxiliar o Ministério da Saúde na tomada de decisão para ampliação de faixa etária, que no momento, para a vacinação nacional, contemplará a população de 10 a 14 anos: “O estudo vai auxiliar também a Organização Mundial da Saúde, pois as evidências científicas que serão geradas aqui no Brasil poderão influenciar na tomada de decisão em nível internacional. Essa é a faixa etária em que temos o maior número de casos no Brasil e no mundo.”
“É importante destacar que o Brasil é o primeiro país do mundo a utilizar essa vacina, essa tecnologia, numa estratégia de saúde pública. O mundo inteiro está olhando para o que estamos fazendo”, completou o diretor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI), Eder Gatti.
Participantes passarão por exames e serão acompanhados
A vacinação no CMS Mourão Filho, para os usuários elegíveis cadastrados na unidade, seguirá até o dia 23 de fevereiro. No dia 24 iniciará em outras unidades da região. O cronograma com as datas em que cada unidade será contemplada será divulgado posteriormente.
Antes de iniciar a imunização, os participantes preencherão o formulário de consentimento, responderão a um questionário com dados de saúde e farão um exame de sorologia, que determinará quais deles já tiveram contato com algum sorotipo do vírus da dengue. A vacina será aplicada em esquema de duas doses com intervalo de 90 dias entre elas, totalizando 40 mil doses. A aplicação da primeira dose corresponde à etapa inicial do estudo. Na segunda fase, os participantes completarão o ciclo de imunização exatos três meses após receberem a primeira dose. A pesquisa terá a duração total de dois anos, período em que os participantes serão acompanhados e os cientistas colherão informações de casos, hospitalizações e óbitos para observar a diferença de comportamento do vírus entre vacinados e não vacinados.
“O objetivo dessa pesquisa é gerar novas evidências científicas sobre a vacinação contra a dengue e verificar a efetividade e a segurança da vacina no contexto da nossa população, que já teve contato com os vírus da dengue, da zika e da chikungunya. Nas avaliações da vacina realizadas tanto pela Organização Mundial da Saúde quanto pelo Ministério da Saúde, e que embasaram sua incorporação no programa de imunização, houve a recomendação para a realização de estudos de larga escala com a vacina, como estamos fazendo agora”, explica o infectologista José Cerbino Neto, que coordena o estudo de Guaratiba e também conduziu o trabalho realizado na Ilha de Paquetá (“PaqueTá Vacinada”) em 2021.
Sobre a vacina Qdenga
Fabricada pelo laboratório japonês Takeda, a vacina Qdenga foi aprovada pela Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias (Conitec), do Ministério da Saúde, e incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Ela é feita com o vírus vivo atenuado e interage com o sistema imunológico de modo a provocar uma resposta semelhante à gerada pela infecção natural.
O imunizante confere proteção contra os quatro subtipos do vírus da dengue existentes (DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4) e por isso deve ser aplicado inclusive em quem já teve a doença